quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Saúde lança campanha para aumentar doações de órgãos.


 

Uma campanha para que a família autorize a doação de órgãos foi lançada hoje (27) pelo governo. A campanha na mídia também vai incentivar os profissionais de saúde a notificar os casos de morte cerebral às centrais estaduais de transplantes.

Para doar um órgão ou tecido, não é preciso assinar documento por escrito. A família deve estar ciente da vontade, pois é ela que autoriza a doação em caso de morte cerebral. No entanto, a recusa de parentes em autorizar a doação é apontada pelo Ministério da Saúde como um dos obstáculos para aumentar o número de transplantes no país.

Segundo o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, em 24% dos casos de morte cerebral, a família não autoriza a doação. A campanha será veiculada na internet, em veículos impressos e nas emissoras de rádio e televisão a partir do dia 6 de outubro.

O ministério anunciou recursos de R$ 76 milhões para incentivar o transplante de órgãos e tecidos no país. Do total, R$ 10 milhões serão para capacitar mais de 2 mil profissionais de saúde para tratar a questão do transplante com as famílias.

"A abordagem precisa ser aperfeiçoada e profissionalizada. A entrevista com a família tem técnica e pretendemos melhorar os entrevistadores na realização dessa tarefa, que é determinante para a doação ou não dos órgãos", disse Beltrame, após lançamento da campanha, que marca as comemorações do Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos.

Segundo Beltrame, somente 50% das mortes cerebrais são notificadas. O ministério aumentou para R$ 600 o valor de remuneração pelos exames complementares para o diagnóstico da morte encefálica. "Queremos valorizar o profissional e que o diagnóstico saia rápido", afirmou.

Foram reajustados também os valores pagos pelas cirurgias de transplantes de córnea e de coração, com o objetivo de incentivar esse tipo de cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS). O governo prevê também a criação de 80 leitos na rede pública para o transplante de medula óssea, equivalente a R$ 16 milhões, e a implantação de bancos de tecidos (córnea, pele e osso) em dez estados, com investimento de R$ 20 milhões.

Em 2009, foram realizados 20.253 transplantes de órgãos sólidos (coração, fígado, rim, pâncreas e pulmão), córnea e medula óssea no Brasil. No primeiro semestre deste ano, foram 2.367 transplantes, um aumento de 16,4% em comparação ao mesmo período do ano passado. Cerca de 60 mil pessoas aguardam na fila por um órgão, conforme dados do governo.

O tempo de espera varia de acordo com a unidade da federação e com o tipo de órgão ou de tecido doados. Uma estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2004 a 2006, mostra que as regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste, com exceção do Rio de Janeiro, apresentam o menor tempo de espera e fazem o maior número de transplantes. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, a taxa de doação cresceu 60% no país desde 2007.


 

MATÉRIA,CORREIO BRASILIENSE.

PUBLICAÇÃO 27/09/2010.

SILEIDE DA CRUZ,FACULDADE VASCO DA GAMA.8AM.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Uma opção para quem precisa de um transplante de córneas


Uma bolada no futebol, uma conjuntivite, um acidente na fábrica, um cisco nos olhos, uma explosão no forno do fogão, um acidente de automóvel, tudo isso é perigoso e pode ser motivo de perda de visão. Como opção para recuperar a visão, resta apenas um transplante que tem toda a sua base estruturada em banco de olhos.

O transplante de córnea é a mais comum modalidade de transplante de tecidos. Nos Estados Unidos são feitos cerca de 35.000 transplantes de córnea por ano, com sucesso de 90% em casos de bom prognóstico. No Brasil, o número de transplantes é ainda pequeno (mais ou menos 3.000/ano), apesar das constantes campanhas, como também da lei criada no último ano pelo Governo Federal que estabeleceu a inclusão na carteira de identidade do termo doador de órgãos. Caso a pessoa não se interessar em ser um doador de órgãos, basta que ele não inclua isto em sua identidade.

Banco de Olhos

Um banco de olhos é uma entidade sem fins lucrativos que recebe doações, prepara e distribui córneas para transplante, ensino e pesquisa. O Banco de olhos não escolhe e nem tem preferência de qualquer espécie, pois a pessoa que irá receber os olhos entrará numa lista de espera seguindo uma ordem cronológica de inscrição. Se os olhos doados forem de cor diferente da do olho do paciente que irá receber, não haverá problema, pois as partes dos olhos que serão utilizados não influem na cor. Não há idade limite para ser doador. O paciente pode ter qualquer idade para ser beneficiado com o transplante.

Mesmo que a pessoa tenha qualquer deficiência nos olhos pode ser doador, mesmo que tenha os olhos afetados por miopia, hipermetropia, astigmatismo, catarata e outras doenças, poderá doá-los; pois para o transplante é aproveitada apenas a córnea. O restante é utilizado para pesquisa de doenças oculares. A equipe técnica de um banco de olhos é normalmente composta por especialistas em oftalmologia, médicos e outros profissionais aptos na manutenção de um trabalho médico altamente especializado. Em alguns casos, os bancos de olhos contam trabalhos de divulgação. No Brasil podemos encontrar estes serviços ligados aos centros de transplantes de órgãos, normalmente vinculados às secretarias estaduais de saúde nos diversos estados do país. Além disso, uma boa parte deles são particulares ou ligados a alguma universidade federal ou estadual.

Indicação

Esse tipo de cirurgia é indicado quando existe a perda da integridade da córnea, opacidade central da córnea, curvatura anormal da superfície da córnea, que não possa ser corrigida por lentes de contato infecção que não responde ao tratamento clínico. Normalmente os tipos de anestesias que podem ser a geral ou local, dependendo da idade, cooperação do paciente e das condições do olho. A anestesia geral é obrigatória em recém nascidos, crianças e adultos que não cooperam.

Já o doador é toda pessoa que voluntariamente se inscreva em banco de olhos ou em um dos postos de doação. Além disso, os interessados em realizar uma doação podem ainda no Brasil, colocar na carteira de identidade se é ou não um doador, tanto de córnea, como de qualquer outro órgão. No caso da doação dos olhos, os bancos de olhos e postos de saúde lembram que é melhor fazer a doação em vida.

Com a doação de seus olhos, estes podem ser utilizados, após sua morte, por qualquer outra pessoa que deles necessite. O doador deve preparar seus familiares para que seja cumprida sua vontade após sua morte. A família deve avisar o banco de olhos imediatamente após a morte do doador, pois os olhos poderão ser retirados só até quatro horas após o falecimento.

Tecido /Doação

O tecido ocular vem de pessoas que querem doar seus olhos por ocasião da morte para beneficiar pessoas com deficiência visual. Alguns assinam um cartão de doação em vida; outros não o fazem, mas seus familiares, sabendo que da intenção de seu ente querido, assinam o formulário de doação no momento da morte. A doação ocular só se torna efetiva após a morte.

Uma das perguntas, segundo o oftalmologista Dr. Stanley Campolina Vidal, especialista em vítreo e retina, mais comuns por parte da sociedade é saber se todo o olho é transplantado. Isto não acontece, pois apenas a córnea é transplantada. Outras partes do olho podem ser usadas de outras maneiras. A esclera, que é a parte branca do olho, por exemplo, é usada em cirurgias de plástica ocular. Outras partes do olho são usadas em pesquisa sobre causas e cura de doenças oculares causadoras de cegueira. A córnea é a parte anterior e transparente do olho. Ela é como o vidro do relógio.

Para o oftalmologista, é importante lembrar sobre a importância da doação, pois em alguns, como nas emergências por exemplo, às vezes o paciente pode esperar muito tempo até ter o material doado à disposição. Segundo ele, a córnea é um tecido nobre, que pode dar esperanças para quem realmente precisa.

Qualquer pessoa, ou melhor qualquer um que tenha a córnea sadia pode ser doador. Não há limite de idade. O uso de óculos não impede a doação. Para doar as córneas, ou melhor se as pessoas tem intenção de doar, basta assinar um cartão de doação junto ao Banco de Olhos ou apenas preencher o formulário aqui disponível. Não se esqueça de avisar sua família e amigos da sua intenção, pois, para que a doação se concretize, são eles que devem notificar o Banco no momento da morte. Quando a pessoa é menor de idade, os pais ou responsáveis é que têm que dar o consentimento, explica o médico.

Em casos de desistência da doação, basta que a pessoa rasgue o cartão de doação e comunique o fato à família e ao Banco de Olhos. A doação não interfere com o velório ou o enterro. A doação não altera a aparência do doador e não atrasa o enterro. Não existem gastos com a doação. A doação não acarreta nenhum gasto para a família do doador. Os custos envolvidos no preparo da córnea (R$600,00) são cobertos pelo Banco de Olhos.

Transplante

O transplante é uma cirurgia que troca a porção central da córnea doente por uma córnea sadia doada. A nova córnea é fixada com um fio especial mais fino que um fio de cabelo, com o auxílio de um microscópio cirúrgico.

Para exemplificar um transplante de córnea, é como voltarmos ao exemplo de um relógio, se o vidro estiver embaçado fica difícil enxergar o mostrador. Para podermos usá-lo, é necessário substituir o vidro por outro transparente. Da mesma forma, o transplante só está indicado quando o problema for na córnea. Isto pode acontecer por diferentes motivos, ou seja, por alguma doença adquirida, por um defeito de nascimento ou por um ferimento. Em tais situações, a visão fica prejudicada e não é possível melhorá-la com uso de óculos. Só a troca da córnea doente por outra sadia e transparente pode melhorar a visão.

Informações e Controle de Qualidade

Em princípio, todas as doações são aceitas. O ato da doação é extremamente benéfico à família pesarosa. É portanto um direito inalienável dessas famílias.

O Banco de Olhos exerce, no entanto, rigoroso controle de qualidade visando oferecer córneas viáveis e com mínimo risco de transmissão de doenças ao doador. Todas córneas são examinadas duplamente à Lâmpada de Fenda: no globo ocular e "in vitro", dentro do líquido preservante. O meio de preservação é o Optisol.

Para que uma córnea seja candidata a uso são necessários: em primeiro lugar que uma amostra de sangue do doador esteja disponível para exame sorológico para que a história nosológica do doador seja conhecida. Os exames sorológicos de rotina são o do ELISA anti-HIV I-II e HBs AG. A análise do prontuário médico é a "pedra fundamental" de nosso controle da transmissão de doenças pelo enxerto.

Cerca de 50% das doações são reprovadas pelo controle de qualidade. O tecido impróprio para transplante é utilizado em treinamento cirúrgico, pesquisas médicas e, em última instância, cremado. O método de obtenção de córnea é "hospitalar ativo". Os técnicos treinados do Banco de Olhos procuram as famílias dos pacientes hospitalizados recém-falecidos e pedem pela doação. As campanhas e cartões de doação servem apenas de alerta para a existência do programa de doações mas não constituem fonte importante de aquisição dos nossos tecidos.

Colaboração:Teôni Maria Vilas Boas de Oliveira Vilas Boas- 8º semestre Serviço Social- Faculdade Va

Cidadania X Doação de Sangue

Ao contrário do que muita gente pensa, doar sangue não é um bicho de sete cabeças e pode ser bem simples.

Para que não falte sangue para os pacientes é preciso que a doação seja feita regularmente, e não apenas nos períodos de campanhas (como nas férias escolares ou em grandes manifestações populares, como o Carnaval e São João), cujo principal objetivo é reforçar os estoques de sangue por serem as épocas mais criticas do ano.

Programe-se para doar pelo menos duas vezes por ano. Você pode agendar sua doação de sangue quando tiver maior disponibilidade de tempo evitando os longos períodos de espera. E o melhor, doar sangue é um gesto que pode salvar vidas.

A Fundação Hemoba com sede em Salvador, na Avenida Vasco da Gama, tem convênio com hospitais em vários municípios do Estado da Bahia - Santo Antônio de Jesus, Alagoinhas, Jequié, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Teixeira de Freitas, Camaçari e outros –  e abastece cerca de 40 hospitais e clínicas da rede pública e conveniada ao SUS, mantendo nos mesmos, estoques estratégicos para o atendimento de pacientes cirúrgicos, politraumatizados, com doenças graves,  e para reverter situações de risco daqueles que dependem de sangue e de seus componentes.

Sabemos que, principalmente, a falta de informação em saúde está dificultando  que se exerça a solidariedade e o dever social da doação de sangue, levando os hospitais a uma situação crítica, com estoque abaixo do que é necessário para  atender os pacientes que precisam de transfusão.
Não podemos esquecer que, a cada dia, a população aumenta nas áreas urbanas e, infelizmente temos convivido com todo tipo de violência, inclusive aquelas que causam hemorragias, expondo pessoas a risco de vida, o que é agravado pela situação de carência de sangue nos hospitais e exige, de cada um de nós, um empenho maior, na mobilização de novos doadores de sangue.

Requisitos para doação:
-   Estar em boas condições de saúde.
-   Ter entre 18 e 65 anos.
-   Estar alimentado, evitando alimentação gordurosa até 4 horas antes da doação.
-   Ter peso igual ou superior a 50 Kg.
-   Ter dormido pelo menos 6 horas.
-          Trazer carteira de identidade, carteira de motorista, carteira de reservista, carteira de trabalho, passaporte, carteira de conselho regional ou documento equivalente com foto recente.

Alguns impedimentos temporários:
-          Estar gripado ou com febre.
-          Até um ano após da aplicação de tatuagem ou piercing.
-          Estar grávida, 3 meses após o parto ou amamentando.
-          Ter ingerido bebida alcoólica até 12 horas antes da doação.
-          Não devem ser aceitos para doação, candidatos que não tenham condições de interromper atividades que apresentem risco para si ou para outros por, pelo menos 24 horas após a doação.   

Alguns impedimentos definitivos:
-    Homens e mulheres com vários (as) parceiros (as) sexuais.
-    Se você teve hepatite após os 10 anos de idade.
-          Pessoas que usam drogas ou tóxicos.
-          Pessoas que se utilizam de material pérfuro-cortante ou que entram em contato com sangue humano, para desenvolver certas atividades.
-          Parceiros sexuais de pessoas doentes ou portadores do HIV.
-          Quem tiver sido contaminado com alguma doença sexualmente transmissível.
-          Outras condições serão avaliadas pelo profissional que fará a sua avaliação de saúde.

Após 60 dias de doação, os homens podem voltar a doar sangue, sendo no máximo de 4 doações por ano. Para as mulheres, o intervalo entre as doações é de 90 dias, sendo no máximo 3 doações por ano.

A doação pode ser feita:
Ø  Na sede da Fundação Hemoba, na Av. Vasco da Gama, ao lado do Hospital Geral do Estado, em dias úteis no horário de 7h 30min às 18h 30min, e aos sábados de 7h 30min às 12h 30min.


Doar sangue não engorda ou emagrece, não traz vício, e não transmite doença durante a retirada do sangue, pois todo material utilizado é descartável.


CAMPANHA MEDULA ÓSSEA

As 10 perguntas mais freqüentes sobre doação de órgão

1-É difícil ser um doador de órgãos?
Não.  É muito fácil e não exige nenhuma burocracia.  Basta você conversar com os seus familiares e deixar bem claro a sua vontade de doar os órgãos. Não há necessidade de deixar nenhum documento assinado, pois os órgãos somente são doados com a autorização expressa dos familiares.

2.  Se no momento da minha morte os meus familiares não assinarem o termo de doação de órgãos, mesmo que eu tenha manifestado em vida a minha vontade, o que acontecerá com os meus órgãos?
Nada. Ninguém irá retirá-los, pois os seus familiares não concordaram com a doação. Por este motivo, é muito importante que os seus familiares diretos estejam bem esclarecidos da sua vontade. Quando isto acontece, ela é sempre respeitada.

3.  Qual a diferença entre morte encefálica e coma? Quem está em coma pode doar órgãos?
A morte encefálica, comumente conhecida como morte cerebral, representa a perda irreversível das funções vitais que mantêm a vida, como perda da consciência e da capacidade de respirar, o que significa que o individuo está morto.  O coração permanece batendo por pouco tempo e é neste período que os órgãos podem ser utilizados para transplante.
O coma representa uma lesão cerebral grave, mas que pode ser reversível e, portanto, o paciente não é doador de órgãos. A morte encefálica também não deve ser confundida com o estado vegetativo persistente, em que o paciente tem uma lesão cerebral, permanece em coma por meses ou anos, mas mantém a capacidade de respirar.
No entanto, se o indivíduo em coma ou em estado vegetativo persistente evoluir para um quadro de morte encefálica, que é irreversível, poderá se tornar um doador.

4.  É muito difícil fazer o diagnóstico diferencial entre morte encefálica e coma?
Não. Por meio de exame clínico é possível fazer o diagnóstico de cada um deles. Esse é um processo frequente e muito seguro no Brasil, que possui um dos protocolos de morte encefálica mais rígidos do mundo.  No nosso país, a morte encefálica precisa ser confirmada por dois médicos especialistas e por exames específicos, o que torna o diagnóstico seguro.

5. Como os órgãos são distribuídos? Existe uma fila dos receptores de órgãos?
Todo paciente que necessita de um transplante precisa obrigatoriamente estar inscrito em uma Central de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde distribuída pelos diferentes estados do Brasil. No registro são colocados os dados do candidato ao transplante e, a partir de então, ele aguarda por um órgão que seja compatível com as suas características.
As filas são controladas pelas Centrais de Transplantes de tal forma que os critérios médicos e ordem de inscrição são totalmente respeitados. Portanto, a fila de espera por um órgão não funciona unicamente por ordem de inscrição. Primeiro, o órgão precisa ser compatível com o receptor. Depois é selecionado, daqueles compatíveis, quem tem maior tempo de espera na lista. Para isto, se conta com um programa de computador que faz a distribuição dos órgãos de forma muito bem determinada.

6.  Os órgãos podem ser vendidos? Quanto custa cada um deles?
Não! Qualquer manifestação de vender ou comprar órgãos é crime. Nenhum transplante de órgãos é realizado no Brasil sem o conhecimento das Centrais de Transplantes das Secretarias de Estado da Saúde, portanto esta possibilidade não ocorre. Doação é um ato de livre e espontânea vontade e de amor ao próximo.

7.  Notícias sobre pessoas que foram sequestradas e tiveram os seus órgãos retirados têm fundamento?
Não. O transplante é uma operação muito delicada e realizada somente em Centro Cirúrgico e em Hospitais Especializados. Os órgãos são distribuídos para estes hospitais pelas Centrais de Transplantes.  Portanto, estas notícias são completamente infundadas e prestam total desserviço à população.

8.  Quais os órgãos podem ser doados em vida e quais podem ser doados após a morte?
A falta de doadores falecidos faz com que se utilize a doação intervivos. Nesse caso, é possível doar um dos rins, que é o transplante intervivos mais comum. Em situações especiais pode-se doar parte do fígado ou do pulmão.
Do doador falecido podem ser retirados para transplante: 2 córneas, 2 rins, 2 pulmões, fígado, coração, pâncreas, intestino, pele, ossos e tendões. Um único doador pode salvar muitas vidas.

9.  Todo indivíduo em morte encefálica é doador? Conheço famílias que doaram, mas os órgãos não foram utilizados. Isto é possível?
Sim. Há casos em que as famílias querem doar, concordam com a doação, mas os órgãos não podem ser utilizados. Isso acontece se o doador for portador de doença infecto-contagiosa, tiver permanecido por tempo prolongado em choque ou tiver diagnóstico de câncer. Em situações raras, a distância entre o doador e o receptor pode comprometer a qualidade de preservação do órgão.
Nestas situações, as famílias são comunicadas sobre o motivo da recusa dos órgãos e não devem ficar aborrecidas, pois a vontade do doador foi totalmente respeitada.

10. Como fica o corpo do doador após a retirada de múltiplos órgãos? Fica muito deformado?
A retirada de órgãos é um procedimento cirúrgico muito delicado, que não causa a mutilação do corpo. São retirados apenas os órgãos para ser transplantados, como se fosse uma cirurgia de rotina, após a qual o corpo é liberado aos familiares para o sepultamento.

Fonte: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
Colaboração: Naiara Marques- 8º sem Faculdade Vasco da Gama

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

CORREIO | O QUE A BAHIA QUER SABER: Governo investirá R$ 76 milhões para estimular a doação de órgãos no país

CORREIO O QUE A BAHIA QUER SABER: Governo investirá R$ 76 milhões para estimular a doação de órgãos no país

TRANSPLANTES AS CLARAS



A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos está incentivando os centros de transplantes nos Estados a divulgar em seu registro não só os números de operações feitas mês a mês, mas, também, a taxa de sucesso delas. Os médicos consideram a transparência uma prestação de contas do serviço à sociedade. Nos 716 transplantes de fígado no primeiro semestre, por exemplo, a sobrevida do paciente foi de 80%.

Revista ISTOÉ, 18 DE AGOSTO/2010, ANO 34, N° 2127
Jornalista: Ricardo Boechart.
Colaboração: Denise Nascimento Santana 8º semestre- Faculdade Vasco da Gama

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Histórias de mães, pais e filhos que, mesmo em casos arriscados, não hesitaram em doar um órgão ao parente que precisava de transplante para conseguir viver


Das três irmãs que precisavam de um rim para sobreviver, Anna Paula Reinelt Marques, de 29 anos, foi a escolhida pelas outras duas para receber o órgão da mãe. A decisão não foi fácil. “Anna estava bastante debilitada, por isso as irmãs acharam melhor que ela recebesse o transplante primeiro. Foram 5 anos na fila de espera. O médico me pedia para doar, mas eu não tinha como escolher”, relata a mãe, Izilda Cristina Reinelt, de 55 anos. As três filhas sofrem de uma doença rara chamada glomeruloesclerose focal, uma síndrome genética que faz com que a pessoa perca as funções renais com o passar do tempo. “Só 40 pessoas no mundo têm essa doença”, diz Anna. Izilda conta que, desde que eram bebês, as meninas apresentavam alguns problemas de saúde, mas nenhum médico dava o diagnóstico correto.  
Na adolescência, porém, a doença foi detectada e elas começaram a fazer hemodiálise (tratamento que consiste no uso de uma máquina para suprir as funções do rim). Começava, então, o tormento de uma rotina de 4 horas conectadas às máquinas três vezes por semana. “Perdíamos o dia inteiro, fora a dor de cabeça, o enjoo, vômitos e a restrição alimentar. Não podíamos beber quase nada. Foram anos muito difíceis”, relembra Anna.

Depois dela ter feito a cirurgia e recebido o rim da mãe, no mesmo ano de 2005 as outras duas irmãs também acabaram ganhando rins novos de outros doadores. O transplante de rim é o mais realizado no País, de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Uma recebeu do pai e a outra de uma prima distante. Depois de tamanha luta pela vida a família fundou a organização não-governamental “Doe vida”, cujo objetivo é promover a conscientização sobre a importância da doação e do transplante de órgãos. A história com final feliz das três irmãs que, assim como os doadores, hoje levam uma vida normal, faz parte dos cerca de 1.757 casos de doações de fígados e rins entre familiares realizados em 2005.

No ano passado, também contando as doações de cônjuges, o número de transplantes entre parentes ficou praticamente igual ao de 4 anos antes: 1.727 – o equivalente a 31% do total de transplantes envolvendo esses dois órgãos registrados no País em 2009, que foi de 5.581 (veja a evolução no número de transplantes nos últimos 5 anos. Para doar um órgão em vida a pessoa tem que obedecer algumas regras, tanto de saúde quanto legais. “Se não for parente, tem que ter uma autorização judicial para poder doar. Isso é necessário para evitar a possibilidade de algum tipo de troca, uma situação onde doador e receptor teriam um acordo com benefícios sem que outras pessoas soubessem”, explica o médico-cirurgião Alfredo Fiorelli, membro da ABTO.

Nos casos de família, a doação está automaticamente permitida. São histórias motivadas por amor, como a do empresário Sidnei Nehme, que recebeu dois órgãos do filho há 12 anos, na primeira cirurgia de doação dupla bem-sucedida entre vivos do mundo (leia a história completa na página 16). Foi assim também no caso da empresária Regina Miranda, de 40 anos, que doou parte do fígado à filha Sofia, hoje com 9 anos, quando ela ainda era um bebê. A  menina nasceu com displasia das vias biliares, que não permite que o corpo drene as toxinas. “Quando ela tinha apenas 70 dias de vida nós já tínhamos o diagnóstico. Logo depois, ela fez uma cirurgia que não teve sucesso.

Então, sabíamos que a solução seria mesmo o transplante de fígado. Os cuidados eram extremos: não pude amamentá-la, pois ela não podia ingerir nada que tivesse gordura. Ao mesmo tempo ela tinha que atingir 10 quilos para poder receber o órgão. Foi um período muito difícil”, lembra Regina.

Na hora certa, em uma cirurgia que durou 14 horas, a mãe doou um terço do fígado para Sofia. “No papel de mãe é uma decisão simples. A maioria na minha posição faria o mesmo”, afirma. Em 3 dias a filha estava ótima. Regina também teve alta, mas conta que os dias seguintes à cirurgia são complicados também para o doador. “Emagreci, tive dores e não conseguia comer direito. Em 3 meses, porém, meu fígado se regenerou e eu já estava completamente boa. Até voltei a praticar corrida”, relata.

Segundo o médico-cirurgião Tércio Genzini, que pertence ao Hepato, grupo especializado em estudos, tratamentos e transplantes de fígado e outros órgãos do aparelho digestivo, o risco de morte em uma cirurgia de transplante de fígado é de 1%, enquanto que na de rim é de 0,01%.

“Embora complexa, a fazemos há bastante tempo e, por isso, a operação de fígado é tão segura. Já a de rim é mais simples, feita com um corte muito pequeno”, explica.

Ele destaca que a compatibilidade entre doadores de fígado é mais fácil de ser conseguida que a de rim, pois basta pertencer ao mesmo grupo sanguíneo. Já para a doação de rim é preciso fazer exames de mapeamento genético com o objetivo de conseguir uma compatibilidade imunológica, evitando a rejeição do novo órgão por parte do organismo que o recebeu.

Genzini ressalta que existem outros órgãos que podem ser doados em vida, mas seus transplantes são bem mais raros e complicados. Segundo ele, quem doa parte do pâncreas, por exemplo, corre o risco de se tornar diabético depois da cirurgia.

Parte do pulmão também pode ser doada em vida, mas também são poucos os casos de transplantes realizados no Brasil.

Dados da ABTO mostram que, em 10 anos, ocorreram apenas 24 cirurgias de transplante de pulmão entre vivos no País. No exterior, pratica-se ainda a doação de parte do intestino.
Já a medula é um tecido simples de ser doado entre vivos.

“A retirada do líquido é feita com sedação. A pessoa que doa não sente desconforto na coleta e o líquido não faz falta ao organismo, pois ele se multiplica”, explica o médico do Hepato.

Apesar de ainda não ser tão comum como a de rim, em 1 década o crescimento da doação de medula cresceu 158% no Brasil e chegou a 1.435 doações no ano passado, segundo dados da ABTO.

Fonte Revista Veja abril 2010
Colaboração: Lais do Rosário 8º semestre- Faculdade Vasco da Gama- Curso de Serviço Social













quarta-feira, 15 de setembro de 2010

DESABAFO DE UM MÉDICO DA CENTRAL DE REGULAÇÃO DA BAHIA

Transferência inter-hospitalar de Ana Larissa Menezes Baptista
Salvador, 24 de agosto de 2010,

Inicialmente quero dizer que não acredito, acreditem, que este texto possa mudar qualquer das barbaridades que vivenciei nessa madrugada. Acreditem, não acredito que encontrarei eco em algum lugar. Preciso, entretanto, falar.
Por volta de 22h30min da última segunda-feira, 23 de agosto de 2010, fui contactado pela Central Estadual de Regulação (CER) para realização do transporte da menor, Ana Larissa Menezes Baptista. Ao me dirigir à mesa do chefe do plantão para pegar a ficha de atendimento para o transporte inter-hospitalar fui informado que deveria transportar a paciente supracitada do Hospital São Jorge (HSJ) para o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) para a realização de tomografia computadorizada (TC) de crânio.
A história que ouvi era a de uma paciente em estado grave, no pronto atendimento (PA) do HSJ, em ventilação mecânica (VM), usando adrenalina e dobutamina, após ter sido reanimada ao dar entrada naquela unidade por volta das 18h. Como de costume, solicitei ao chefe de plantão – Dr. Jisomar - e à médica que fora responsável pela regulação, cujo nome me foge nesse momento, que mantivessem contato com o chefe de plantão da emergência do HGRS naquele dia – Dr. Raimundo – ratificando o quadro clínico da paciente e solicitando ao mesmo que verificasse as condições da sala da TC a fim de que a transferência fosse feita no menor tempo possível e Ana Larissa não fosse exposta a qualquer entrave que prejudicasse ainda mais o seu quadro que, naquele momento, já era grave. Informei ainda ao Dr. Jisomar que não realizaria o exame caso o HGRS não possuísse um ventilador disponível na sala de bioimagem ao qual a paciente pudesse ser conectada. Informei ao mesmo que muitos coordenadores do HGRS tinham o hábito de autorizar a regulação de pacientes em VM para a realização de TC sem ao menos confirmarem a existência de ventilador na bioimagem. Informei ainda que por diversas vezes “ambuzei” pacientes que precisavam realizar TC em respeito aos mesmos, bem como aos seus familiares. Disse-lhe ainda que por diversas vezes, sensibilizado com o quadro, e com a necessidade dos pacientes, aceitei fazê-lo, mas que não estava disposto a novamente solucionar um problema que deveria ser resolvido antes da regulação. Dr. Jisomar informou-me que Dr. Raimundo sabia do quadro da paciente, mas que tentaria manter novo contato e que ratificaria o meu pedido. Em virtude da gravidade do quadro de Ana Larissa resolvi sair da base da CER para realizar o transporte o quanto antes.
Ao chegar ao HSJ fui recebido por Dra. Danielle Souza, CREMEB 20.733, pediatra de plantão, que relatou a história de Ana Larissa. Segundo ela, a paciente há cerca de uma semana havia sido atendida numa emergência após episódio de vômito, febre e cefaléia. Naquela oportunidade, a paciente foi submetida à punção liquórica que descartou meningite. Após remissão do quadro na emergência, a menina recebeu alta e evoluiu em casa por quase cinco dias assintomática. Naquela manhã, 23 de agosto, entretanto, Ana Larissa demorou a acordar, fato que chamou a atenção dos seus familiares. No meio da tarde a menina apresentou crise convulsiva e rebaixamento do sensório sendo levada ao Hospital Menandro de Farias (HMF). Após ser atendida naquele hospital, Ana Larissa foi encaminhada para o Hospital Couto Maia (HCM) em ambulância convencional, acompanhada pela mãe e por uma técnica de enfermagem. Segundo Dra Danielle, a mãe relatou que no caminho Ana Larissa apresentou piora do estado geral, com cianose central e ausência de “reflexos”. O motorista da ambulância resolveu então parar no hospital mais próximo, tendo chegado ao HSJ. Ao dar entrada na unidade, a menina apresentava de fato cianose central e ausência de batimentos cardíacos. Foi, então, reanimada com adrenalina e massagem cardíaca e submetida à intubação orotraqueal. Desde então, a paciente encontrava-se em uso de Adrenalina (0,5) 1ml/h e Dobutamina (5) 1,5 ml/h e em ventilação mecânica. Naquele momento, Ana Larissa apresentava Glasgow 3, midríase paralítica bilateral, freqüência cardíaca (FC): 165bpm, pressão arterial (PA): 104X41 (62 mmHg), oximetria de pulso indicando SpO2: 99%, em VM, com PEEP: 5/ PI: 15/ FAP: 22 e FiO2: 60%. Preparamos a paciente para o transporte e nos dirigimos ao HGRS. Todo o transporte até o HGRS transcorreu sem qualquer intercorrência. Fomos acompanhados por Dona Silvia, mãe de Ana Larissa.
Ao chegar à porta da emergência pediátrica solicitei à enfermeira que me acompanhava, Lidysi, que verificasse na sala da TC se tudo estava preparado para a realização do exame, conforme combinado, para que só assim eu pudesse descer da ambulância com Ana Larissa. Após retornar da bioimagem, Lidysi informou-me que não existia ventilador preparado e que a técnica de radiologia nem mesmo sabia que esse exame seria realizado. Resolvi, então, descer da ambulância com Ana Larissa para realizar o exame, mais uma vez em respeito à sua mãe que chorava e rogava a Deus pela melhora de sua filha e por ela - uma menina de oito anos que até a manhã daquele 23 de agosto de 2010 era apenas uma menina saudável e feliz. Entrei, então, na sala de TC e pedi a técnica de radiologia que fizesse o exame no menor tempo possível. Informei-lhe que aquela paciente estava regulada, que Dr. Raimundo estava ciente da necessidade da realização do exame e que assim que terminássemos o mesmo eu retornaria à ambulância, conectaria Ana Larissa ao ventilador da UTI móvel da CER e solicitaria aos médicos de plantão que fizessem a solicitação da TC de crânio a fim de que o filme pudesse ser liberado. Após compreensão da técnica de radiologia, vesti uma capa protetora de chumbo e “ambuzei” por cerca de 5 minutos Ana Larissa dentro da sala da bioimagem, durante a realização da TC. Após retornar à ambulância, solicitei a Lidysi que informasse à pediatra de plantão do caso que já estava regulado e que pedisse a ela para ir até a ambulância conversar comigo, visto que eu assistia Ana Larissa e que a mesma encontrava-se em VM, necessitando, pois, de um ventilador e em uso de Adrenalina e Dobutamina em bombas de infusão, as quais não deveriam ficar muito tempo fora das tomadas para não descarregar. Caso fosse impossível a vinda da mesma à ambulância, que ela fizesse então a solicitação da TC de crânio para que pudéssemos ter acesso ao filme impresso. A médica, Dra. Antonia Aleluia – pediatra de plantão -, resolveu então apenas solicitar a TC de crânio. Lidysi foi então ao setor de bioimagem e recebeu o filme da TC de crânio de Ana Larissa após entregar a solicitação do exame. Ao retornar à ambulância com a TC de crânio identifiquei um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) extenso, com sinais de sangramento intraventricular. Pedi novamente à enfermeira que mantivesse contato com Dra. Antonia Aleluia e que solicitasse a ela um encaminhamento para avaliação neurocirúrgica, visto que eu havia identificado um AVCH extenso. Dra. Antonia informou a Lidysi que não faria qualquer solicitação visto que a paciente deveria ter sido regulada com tal pedido. Ora, tínhamos uma paciente com um AVCH extenso dentro do HGRS e ela não seria avaliada por um neurocirurgião porque no seu pedido de regulação não havia essa solicitação? Para quê então precisávamos da TC de crânio, se não para direcionar, os nossos próximos passos? Precisaríamos então prever que Ana Larissa tinha indicação neurocirúrgica para só assim levá-la ao HGRS? Essas foram questões colocadas por mim para a plantonista supracitada a fim de sensibilizá-la para o que estava acontecendo ali, tudo sem qualquer efeito. Direcionei-me então por conta própria à emergência do HGRS, atrás de algum neurologista que desse o direcionamento adequado à Ana Larissa. Encontrei, então, Dra. Miriam Sepúlveda, CREMEB 3784, neurologista de plantão do HGRS. Mostrei a ela a TC de crânio e a mesma informou se tratar de um AVCH. Disse-me que a paciente precisava de uma vaga em UTI pediátrica e de avaliação neurocirúrgica. Questionei a ela sobre a possibilidade de Ana Larissa ser admitida e ela me informou não ser a responsável por resolver essa questão. Disse-me que mantivesse contato com Dr. Raimundo ou Dra. Paula (coordenadora da emergência pediátrica, segundo ela). Mantive contato com Dr. Jisomar para colocá-lo a par do que ocorria e ele me pediu que aguardasse até que conseguisse falar com Dr. Raimundo. Paralelo ao tempo que aguardava o contato mencionado, procurei por Dr. Raimundo na sala da coordenação médica do HGRS, sem sucesso. Encontrei-o, entretanto, na sala de repouso da equipe médica. Coloquei-o a par de tudo que acontecia e da necessidade de avaliação neurocirúrgica da paciente. O mesmo informou-me que esse não era o acordado com a CER e que eu deveria procurar a plantonista da pediatria para saber se seria possível aceitar Ana Larissa naquela unidade. Lembrei a ele, porque imaginei que ele tivesse esquecido, que aquele era um hospital de referência para avaliação neurocirúrgica. Ainda assim, Dr. Raimundo me disse que fosse à emergência pediátrica resolver com quem estivesse de plantão por lá o que seria feito. Entrei em contato com Dr. Jisomar que me orientou a de fato permanecer com Ana Larissa no HGRS. Ele me orientou a informar à plantonista que Ana Larissa ficaria no hospital, a procurar um ponto de oxigênio dentro do PA do HGRS e disse-me que se fosse preciso montasse o ventilador da UTI móvel no PA da pediatria do HGRS. Procurei então a pediatra do plantão, Dra. Antonia Aleluia, mas não a encontrei dentro do PA. Consegui apenas falar com Juliana, enfermeira que estava de plantão naquela unidade, e pedi a ela que mantivesse contato com Dra. Antonia informando-a das orientações que eu havia recebido. Juliana me informou que falaria com Dra Antonia e que ela me encontraria na entrada do PA. Fui então à ambulância retirar Ana Larissa. Descemos com toda monitorização que fazíamos – monitor Dixtal, torpedo de oxigênio, ambu, oxímetro, cardioscópio e manguito de PA não invasiva, bem como com duas bombas de infusão para adrenalina e dobutamina. Encontramos com Dra. Antonia na porta da emergência pediátrica. A partir dali, seguiu-se um show de horrores que foi iniciado por Dra. Antonia e seguido por Dra. Heloísa, uma segunda plantonista com a qual, poucos minutos mais tarde, eu tive a infelicidade de cruzar. Dra. Antonia, se posicionando na porta de entrada da emergência, me disse de maneira ostensiva, e num tom inapropriado para a situação, que não tinha lugar para aquela paciente ali. Disse-me ainda que eu enganava os familiares de Ana Larissa e que ali eles não fariam nada por ela. Disse-me que sairia do plantão e o deixaria sob minha responsabilidade. Eu a informei que havia sido orientado que Ana Larissa deveria permanecer no HGRS. Após se retirar da porta, fato que impedia minha passagem, entrei no HGRS. Direcionei-me à sala de reanimação, onde existiam dois ventiladores mecânicos que não estavam sendo utilizados, para então instalar Ana Larissa. Nesse momento, fui então surpreendido por Dra. Heloísa Cunha que aos gritos insultou-me. Dizia ela que eu estava acostumado a chegar naquela unidade e deixar os pacientes por lá, mesmo sem que fosse possível recebê-los. Dizia, ainda, que eu havia sido expulso daquela unidade há alguns dias por um neurocirurgião. Eu retruquei, informando-a que aquilo não era verdade. Lembrei-lhe que na oportunidade à qual ela se referia eu trazia uma paciente, vítima de atropelamento, do Hospital Ernesto Simões Filho. Disse-lhe que a paciente em questão estava regulada para o hospital e que não era meu papel levá-la à sala de TC, muito menos ao Centro Cirúrgico, após a realização da mesma, como eles desejavam. Fiz-lhe lembrar que, ainda reconhecendo naquele dia não ser minha função dar encaminhamento dentro do HGRS à paciente, aceitei fazê-lo em respeito à paciente e aos seus familiares, e nunca em consideração a ela ou ao neurocirurgião ao qual ela se referia. Aos gritos, completamente desequilibrada, a Sra. Heloísa Cunha tentou expulsar-me da unidade. O que se ouvia nos corredores eram gritos de: “saia”, “saia”, “saia”. Naquele momento, muitos dos acompanhantes dos pacientes que estavam naquela unidade correram para assistir o tumulto que se seguiu. Eu disse a Sra. Heloísa Cunha que aquele comportamento não era adequado a alguém que assumia o papel de plantonista daquela unidade e que só poderia continuar a tratar com ela se a mesma fosse medicada e contida. Disse-lhe que a identificava como uma Sra. em surto psiquiátrico. Ela então se virou para a mãe de um dos pacientes que ocupava aquela sala e lhe disse que eu queria que o filho dela morresse, que eu estava ali trocando a vida do filho dela pela vida de Ana Larissa. Pediu a ela que saísse da maca para que eu colocasse Ana Larissa. Aos gritos dizia: “vou dar uma queixa sua no Cremeb, você vai pro Cremeb”. Após o paciente ter saído da maca, ela, ainda em surto, batia na mesma dizendo: “venha, coloque a sua paciente aqui”, “venha, eu já tirei o meu “mal epiléptico” da maca pra que você coloque a sua paciente aqui”, “venha”. Após todo esse escândalo, ela se retirou da sala e pediu às suas colegas que não ficassem ali até que eu deixasse aquela unidade. Os pais de Ana Larissa, Sr. Carlos e Sra. Silvia pediram a ela que tivesse piedade da filha deles e ela aos gritos os expulsou de lá. Disse a eles que fossem chorar lá fora, que ali não era lugar para que eles ficassem chorando. Sr Carlos se dirigiu a mim então e chorando me disse: “Dr. pelo amor de Deus, não deixe minha filha com ela”, “Dr. como minha filha vai ficar aqui com essa “médica”?” Eu disse a ele que jamais sairia dali até que alguém em condições psíquicas assumisse aquele caso. Liguei para Dr. Jisomar e coloquei-o a par do que estava acontecendo, o mesmo ao telefone ainda ouvia os gritos enlouquecidos da Sra. Heloísa Cunha. Solicitei então a Lidysi que trouxesse o ventilador da UTI móvel para que eu o montasse naquela unidade e não os deixasse sem ventilador, a despeito de lá existirem dois ventiladores que não estavam sendo usados. Enquanto eu montava o ventilador e Lidysi “ambuzava” Ana Larissa, a Sra. Heloisa, novamente aos gritos dizia: “nunca mais você vai voltar aqui”, “eu tenho quatro plantões noturnos aqui”, “não apareça mais aqui”, “saia das fraldas”, “saia das fraldas”. Eu repeti insistentemente que ela estava em surto, e disse a ela que voltaria ao HGRS quantas vezes fosse preciso. Disse-lhe que havia recebido uma determinação para entrar com Ana Larissa naquela unidade e que a criança precisava de uma avaliação com um neurocirurgião. Ela foi novamente arrastada para outra sala dentro do PA por suas colegas que de certo já conheciam o seu temperamento descontrolado. Nesse momento, Dr. Raimundo já se encontrava no local e negou ter autorizado a regulação de Ana Larissa para aquela unidade, colocando-se ao lado das pediatras. Informei à terceira plantonista da pediatria que apareceu, Dra. Alderiza Jucá, que anotaria o nome das três médicas plantonistas da unidade pediátrica e que faria um documento para solicitar a quem de direito a apuração destes fatos que acima citei. Nesse momento, Dr. Jisomar me ligou informando que Dr. Marcos do Hospital Geral do Estado (HGE) havia aceitado a transferência da paciente para aquele hospital. Informei então à Dra. Alderiza Jucá que Ana Larissa seria encaminhada ao HGE. A Sra. Heloisa Cunha após ouvir o comunicado entrou novamente na sala de reanimação e novamente aos gritos questionava: “posso devolver meu mal epiléptico pra maca?”, “posso?”, “posso?”. Disse a ela que sob minha ótica ela não poderia jamais estar tratando de ninguém naquela condição de desequilíbrio, mas que não cabia a mim proibi-la, ou autorizá-la, a fazer qualquer coisa. Ela então aos gritos me disse: “vá e não volte”, “você está saindo porque está com medo”, “você está com medo”. Eu disse a ela que não tinha condição de continuar tentando ouvi-la e que estava realmente de saída em benefício de Ana Larissa, já que eu não teria nenhuma condição de deixá-la sob a responsabilidade de alguém que não demonstrava controle emocional como ela. Disse aos pacientes que estavam ali que lamentava que eles estivessem sendo tratados por uma Sra. em surto psiquiátrico. Deixei, então, a unidade de emergência do HGRS em direção ao HGE por volta de 03h. Cheguei ao HGE às 03h15min da madrugada de 24 de agosto de 2010 e fui recebido de maneira bastante cordial por Dra. Ilana Rodrigues, CREMEB 8213, que prontamente pediu avaliação do neurologista. Informei a ela o quadro da paciente e que Ana Larissa apresentava midríase paralítica bilateral, FC: 148bpm, PA: 79X45 (56 mmHg), SpO2: 99%, em VM, com FiO2: 100%. O neurologista, após examinar a paciente e avaliar a TC de crânio, informou aos pais que abriria o protocolo de morte encefálica para Ana Larissa. Após a notícia todos choraram dentro do PA do HGE. Ao fim, me despedi dos pais de Ana Larissa e fui abraçado pelos dois que me agradeceram por todo empenho durante aquelas mais de quatro horas de transporte. Ao sair do HGE e entrar na ambulância da CER fui novamente abordado pelos familiares de Ana Larissa que novamente nos agradeceram o empenho na resolução daquela história.
Deixamos o HGE por volta das 03h45min e fizemos, eu e Lidysi, o caminho de volta até a CER chorando por termos presenciado, e vivido, tanto sofrimento durante àquelas horas infindáveis. Chorei como há muito não fazia. Chorei destruído com a confirmação do quão frágil é a vida humana. Chorei lamentando que uma menina de oito anos tenha partido de maneira tão repentina. Chorei invadido pelo choro daqueles pais que me abraçaram agradecidos e reconheceram, num momento de perda, o nosso trabalho. Chorei porque encontrei tanta gente, que atende tantas outras gentes, sem estar de fato compromissada com isso. Chorei porque novamente vi um ser humano ser tratado como um problema, um problema cuja paternidade ninguém quis assumir. Chorei porque encontrei a Sra. Heloísa Cunha e toda a sua falta de amor, toda a sua mágoa frente à vida, todo o seu descaso e sua insensibilidade. Chorei porque encontrei abandono, desrespeito e incompreensão. Chorei porque tudo o que já era tão doído se tornou ainda pior tamanha as barbaridades que vi e ouvi. Chorei como nunca. Chorei descrente da profissão que escolhi.
Termino esse desabafo reafirmando que não acredito em mudanças reais. Os protagonistas desse drama continuarão por lá, pelos corredores do HGRS, pelos corredores de tantos outros hospitais públicos. Eles continuarão humilhando os mais necessitados - os fragilizados pela falta de saúde e de saída -, continuarão tentando intimidar os mais esclarecidos que se opõem às suas arbitrariedades. Esse desabafo existe, entretanto, para registrar a minha indignação frente a tudo isso. Seja você que me lê um instrumento de Deus por aqui. Coloque-se no lugar daquela família que perdeu uma filha e que presenciou tanto abandono. Sinta-se tocado por aquela dor e repense suas atitudes frente à vida, frente aos vivos. Tente fazer diferente. E, sobretudo, ame quem quer que seja e tenha a sorte de ser amado como eu sou. Só assim, experimentando a libertação, a salvação que é ser amado, você possa, então, ser amor nesse mundo.




Vinícius Viana Bandeira Moraes – CRM/BA: 18.761
Médico Intervencionista da Central Estadual de Regulação

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O PERIGO DE UMA HISTORIA ÚNICA- SURPREENDENTE E ELUCIDADOR!!!

Esse video de uma escritora Angolana Chimamanda Adichie chama a atenção sobre o perigo de ter uma versão única para uma história, a versão do colonizador, a versão do conquistador, a versão daqueles que querem que nos pensemos de uma unica maneira sobre as questões e situações do nosso cotidiano. A quem interessa isso? Assistam ao video e se emocionem como eu... Se vejam em várias posições apontadas pela escritora e se redescubram buscando várias histórias . O vídeo do ano!!!!
http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html