quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Saúde é desenvolvimento

 

Luis Eugenio Portela Fernandes de Souza *
 
Cerca de 8 mil pesquisadores, estudantes, profissionais e militantes da área se reuniram em Porto Alegre, entre os dias 14 e 18 de novembro, para o 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. O tema central do evento foi Saúde é desenvolvimento: ciência para a cidadania. O que isso significa para os sanitaristas?
O amplo debate ocorrido no Congresso indicou que há pelo menos três dimensões importantes na relação entre saúde e desenvolvimento.
A primeira se refere à bem conhecida distinção entre crescimento econômico e desenvolvimento: o aumento do PIB torna um país mais rico, mas se as condições de vida das pessoas, incluindo seus níveis de saúde, não melhoram, o país não se torna desenvolvido. Nesse sentido — e considerando que a experiência histórica e a teoria econômica evidenciam que o crescimento do volume de riquezas, como medido pelo PIB, não é suficiente para produzir bem estar social —, é necessário articular, em uma só estratégia, as políticas de desenvolvimento e as políticas sociais.
A segunda dimensão concerne aos efeitos das condições de saúde sobre o crescimento econômico. Em seu livro Desenvolvimento como liberdade, Amartya Sen demonstra que investir em educação e em saúde tem um efeito muito positivo sobre o crescimento econômico, citando o exemplo da China, cujo crescimento atual foi bastante favorecido pela expansão da alfabetização e dos serviços públicos de saúde ainda no período maoista.
Finalmente, a terceira dimensão da relação entre saúde e desenvolvimento se atém à contribuição da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de saúde para a geração de riqueza. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que os recursos mobilizados pelo setor da saúde correspondem a 9,7% do PIB mundial, um montante estimado de 5,3 trilhões de dólares, em 2007.
E como se podem caracterizar as relações entre desenvolvimento e saúde no Brasil, hoje?
Começando pela terceira das dimensões supracitadas, no Brasil, o setor da Saúde apresenta gastos da ordem de 9% do PIB e emprega 10% do total de trabalhadores assalariados. Do ponto de vista da ação governamental, vale destacar as oportunas e relevantes iniciativas voltadas para impulsionar a inovação tecnológica e o complexo econômico-industrial da saúde. Tais ações são fundamentais para assegurar o suprimento dos insumos necessários à expansão da oferta de serviços que respondam aos problemas de saúde dos brasileiros, com custos suportáveis para a sociedade. Espera-se que os resultados desses esforços não tardem a aparecer e a se consolidar.
Infelizmente, no que toca à dimensão dos efeitos das condições de saúde sobre o crescimento econômico, a política macroeconômica nacional parece desconhecer a importância do investimento na saúde pública. As esperanças de ampliação dos recursos para a saúde, depositadas na aprovação do Projeto de Lei Complementar 01/2003, foram frustradas, no momento em que a Lei nº 141, sancionada em 2012, não contemplou a obrigação de se destinar, no mínimo, 10% do orçamento da União para os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS). Embora os gastos totais em saúde como proporção do PIB cheguem a 9%, no Brasil, o gasto público não chega aos 4% do PIB, o que significa que 75% da população, que só usa o SUS, dispõem de apenas 385.00 de dólares per capita/ano para a atenção a todas as suas necessidades de saúde. É menos do que dispõem argentinos, cubanos, chilenos, colombianos e mexicanos, para ficar apenas na América Latina.
Finalmente, no que tange à distinção entre crescimento econômico e desenvolvimento, é preciso reconhecer que a estabilidade da democracia política, certo grau de desconcentração da renda e a ampliação do consumo de massas são conquistas sociais e econômicas com reflexos positivos na esfera social. Contudo, as políticas centradas no crescimento e na competividade não estão reduzindo a concentração da propriedade e da riqueza, nem detêm o avanço da mercantilização e privatização das políticas sociais. Com isso, ainda que ajudem a elevar o PIB e a reduzir a miséria, não são capazes de melhorar significativamente as condições de vida e de saúde.
Ser um país desenvolvido é hoje uma aspiração da sociedade brasileira. Buscando contribuir para concretizá-la, os sanitaristas e sua entidade científica desejam se manter articulados ao Movimento da Reforma Sanitária para mobilizar a todos em prol da saúde e do desenvolvimento, apresentando as evidências, produzidas por uma ciência comprometida com a cidadania, de que um sistema de saúde universal é pré-requisito da condição de nação desenvolvida.
* Luis Eugenio Portela Fernandes de Souza é presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Artigo publicado na revista Carta Capital, em 22/11/2012.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

V ENCIHDOTT acontece em São Paulo. Carta de São Paulo III foi elaborada e será encaminhada à Coordenação Nacional de Transplantes

A quinta edição do ENCIHDOTT‏ - Encontro Nacional das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante aconteceu na sexta-feira e sábado (14 e 15 de dezembro), no Auditório Moise Safra, no Hospital Israelita Albert Einstein, promovido pelo Programa Integrado de Transplantes de Órgãos e o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa.

O evento teve a participação de cerca de 250 profissionais, de todo o território nacional, envolvidos com as atividades relacionadas à Doação e Transplantes. Após as aulas teóricas, que aconteceram na manhã do dia 14, os participantes foram divididos em grupos de trabalhos para definirem propostas de ações com o objetivo de elaborar um consenso, intitulado "Carta de São Paulo III”, que será enviado à Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes para que possa auxiliá-la em medidas que resultem em aumento do número de doadores de órgãos e tecidos em todo o Brasil.

Os palestrantes foram os doutores Cláudio Luiz Lottenberg, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE – SP), Alberto Hideki Kanamura, do Instituto de Responsabilidade Social (IIRS – SP); Felipe Spinelli; do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP – SP); Álvaro Pacheco Silva Filho, Coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes de São Paulo; Heder Murari Borba, Coordenador Geral do Sistema Nacional de Transplantes; Agenor Spallini Ferraz, Coordenador da Central de Transplantes de São Paul) – SP; Dr. José Osmar Medina Pestana, presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO); e o Dr. José Mario Teles, presidente da AMIB, que falou da importância do papel da associação no processo de transplante e doação de órgãos.

No início da tarde da sexta-feira, o Dr. Heder Murari apresentou os “Avanços do Sistema Brasileiro de Transplantes”. Durante sua apresentação, o médico informou que irão colocar no ar um software que rastreará todos os dados sobre doação e transplantes da América Latina e condensar em um único local para consulta. “Dessa forma teremos um documento importante para traçarmos as nossas estratégias”, disse, além de comunicar que haverá em 2013 de algumas ações importantes com os governos do Paraguai e Argentina.

Outro dado importante apresentado pelo coordenador Geral do Sistema Nacional de Transplantes foi o estabelecimento de uma parceria com a FAB (Força Área Brasileira) para o transporte dos órgãos.

Ao falar das ações que desenvolveram durante o ano, além de participação de eventos e reuniões com as Comissões Regionais de Transplante, o Dr. Heder Muradi lembrou sobre a parceria com o Facebook, que gerou, só na primeira semana, mais de 80 mil usuários declarados como doadores de órgãos.

Muradi também que um desses desafios é a “burocracia” e destacou que a legislação brasileira atual exige o laudo de dois neurologistas para atestar casos de morte encefálica e afirmou que o Ministério da Saúde é a favor da proposta enviada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) para que a exigência, em caso de morte encefálica, passe a ser o laudo de dois médicos com qualificação em terapia intensiva, e não mais em neurologia.

Antes da reunião dos grupos, houve uma sessão interativa para identificar a opinião da plateia em relação a alguns temas importantes. A presença maciça da plateia foi de enfermeiros, representando 56,9% dos presentes. Dos profissionais presentes, 7,3% atuam em unidades de terapia intensiva. Na questão “quem comunica a morte encefálica aos familiares”, nas instituições representadas 82,5% são os médicos plantonistas. A entrevista com os familiares é realizada por 72,8% das instituições presentes

Em relação aos problemas enfrentados durante o processo de todos apresentados, 61,8% ficou com a falta de pessoal qualificado para a manutenção dos órgãos.

Norte e Nordeste são responsáveis pelo aumento no número de transplantes

Dados do Ministério da Saúde mostram evolução no número de transplantes nas regiões Norte e Nordeste que puxaram a expansão do número de cirurgias feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em 2012. O resultado confirma o esforço que vem sendo feito, desde 2011, para descentralizar a política e aumentar o volume de transplantes fora do eixo Sul e Sudeste. O aumento no número de equipes especializadas e das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) impulsionou o crescimento nessas regiões. Na região Norte o crescimento foi de 47% (4.706 transplantes) e no Nordeste 20% (613 transplantes) se comparado ao ano passado. Os estados que mais se destacaram em aumento percentual foram Bahia (59%), Pará (56%), Pernambuco (55%), Maranhão (44%) e Amazonas (35%). O Brasil realizou 23.999 transplantes em 2012, maior número da última década, quando foram registradas 12.722 cirurgias realizadas.
“Desde 2011, o Ministério da Saúde está se esforçando para expandir o acesso a todas as regiões. Comemoramos esse resultado nas regiões no Norte e Nordeste, e estamos buscando investir cada vez mais no setor para expansão da realização de transplantes no país”, destaca o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Cirurgias - Em números absolutos, São Paulo se destaca com 8.585 transplantes realizados, sendo a maior parte de córnea (5.541). O segundo estado com volume maior de transplantes é Minas Gerais – 2.179, seguido por Paraná (1.721), Pernambuco (1.678) e Rio Grande Sul (1.673).
O transplante de pulmão teve aumento de 69%, seguido do coração com 43% a mais quando comparado com o ano passado. Também houve aumento na quantidade de doadores de órgãos, que passou de 2.207 (2011) para 2.434, registrando 12,7 doadores por milhão de população (PMP).
Com atuação do Ministério da Saúde na melhoria da infraestrutura – especialmente a capacitação de equipes para o contato com as famílias dos possíveis doadores -, incentivo financeiro aos hospitais e na sensibilização da população por meio de campanhas anuais de incentivo à doação de órgãos e tecidos, os brasileiros têm demonstrado que a estratégia é eficiente.
De acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, a cirurgia de córnea atingiu 15.225 cirurgias em 2012, contra 14.838 no mesmo período de 2011.
No ano passado, alguns estados já eliminaram a lista de espera para o transplante de córnea nos estados de Ceará, Pernambuco, Acre, Mato Grosso do Sul, Paraná, Espirito Santo, Distrito Federal e São Paulo.
Ações – Em 2012, o ministro Alexandre Padilha assinou uma portaria que institui a atividade de tutoria em doação de órgãos e transplantes no País. Essa é uma forma do Ministério da Saúde estimular centros de excelência a capacitar serviços que queiram melhorar ou iniciar a realização desse tipo de cirurgia. O objetivo dessa ação é investir na capacitação e fortalecimento da rede brasileira de transplantes.
Um dos critérios para a habilitação de centros de excelência é fazer parte da rede pública ou ser entidade sem fins lucrativos que atenda de forma complementar ao Sistema Único de Saúde (SUS). Outros critérios são: ter experiência de dois anos ou mais na área; realizar, no mínimo, três tipos de transplantes (sendo dois de órgãos sólidos e/ou um de tecido) ou, ainda, transplante de medula óssea alogênico não aparentado; desenvolver estudos e pesquisas na área, entre outros.
Parceria - Ainda no ano passado, foram adotadas diversas medidas na área de transplantes no Brasil. Uma delas é a parceria com o Facebook, com criação da funcionalidade que permite ao usuário se declarar doador de órgãos. Ao todo, 121 mil pessoas já se declararam como doadoras. Para expressar no Facebook o desejo de ser um doador de órgãos, basta ir à Linha do Tempo e clicar em “Evento Cotidiano”. Depois é preciso selecionar a opção saúde e bem-estar e clicar em doador de órgãos.
Investimentos - Outra ação importante foi a incorporação de um medicamento para o paciente transplantado de rim. A imunoglobulina pode ser usada em casos de rejeição do órgão transplantado. Esta iniciativa possibilita uma rápida recuperação, além da melhoria na qualidade de vida do paciente.
Para estimular a realização de mais transplantes no SUS, o Ministério da Saúde criou novos incentivos financeiros para hospitais que realizam cirurgias na rede pública. Com as novas regras, os hospitais que fazem quatro ou mais tipos de transplantes passaram a receber um incentivo de até 60%.
Para os hospitais que fazem três tipos de transplantes, o recurso será de 50% a mais do que é pago atualmente. E nos locais onde são feitos um ou dois tipos de transplantes será pago 30% e 40% acima do valor, respectivamente. O investimento destinado para essa medida foi de R$ 217 milhões.
Fonte: Neyfla Garcia /Agência Saúde